O tempo se vai. Às vezes, penso que precisaria viver apressado, tirar o máximo partido destes anos que restam. Hoje em dia, qualquer um pode me dizer, depois de esquadrinhar minhas rugas: "Mas o senhor ainda é um homem jovem!" Ainda. Quantos anos me restam de "ainda"? Penso nisso e me dá pressa, tenho a angustiante sensação de que a vida me foge, como se minhas veias se tivessem aberto e eu não pudesse deter meu sangue. Porque a vida são muitas coisas (trabalho, dinheiro, sorte, amizade,amor, saúde, complicações), mas ninguém vai me negar que, quando pensamos nessa palavra, Vida, quando dizemos, por exemplo, que "nos agarramos à vida", estamos assimilando-a a outra palavra mais concreta, mais atraente, mais seguramente importante: estamos assimilando-a ao Prazer. Tantas coisas se foram, tantas coisas se passaram ! A roda agora me parece ovalizada, girando de forma desconcertada e sem simetria. Penso no prazer (qualquer forma de prazer) e tenho certeza de que isso é vida. Daí a pressa, a trágica pressa destes 50 anos que me pisam os calcanhares. Novos tempos me surgem, tempos que agora me parecem nebulosos e incertos mesmo que sejam bons cheio de paz e tranqulidade ! Mas me enchem de duvidas. Ainda me restam, assim espero, uns quantos anos de amizade, de amor, de saúde passável, de afãs rotineiros, de expectativa ante a sorte, mas quantos me restam de prazer? Eu tinha 20 anos e era jovem; tinha 30 e era jovem; tinha 40 e era jovem. Agora tenho “quase” 50 anos e sou "ainda jovem". "Ainda" significa: está acabando ?
Onde anda Freud ? rsrs