UM DIA NAS MONTANHAS GELADAS
Albuquerque–New México , olho para o relógio, são 9:30 hs da manhã, lá fora um vento gelado do deserto corta minha face enquanto tento fumar meu cigarrinho e aperto meu peito sentindo já a nostalgia de partir daquele lugar exótico e apaixonante. Ira,um navarro simpático e gentil me serve uma xícara de chocolate quente e comenta que um dia gostaria de ir ao meu pais,sua namorada também navarro me abre um belo sorriso e exclama que aquela é uma bela manhã de inverno ! Meu brother Jeff ainda dorme enquanto preparo minhas malas! Ás 11:00 hs já me encontro no ônibus rumo a Denver–Colorado. Logo depois da fronteira na cidadezinha de Alamosa encravada nas magníficas Rocky Mountains que corta o estado de norte a sul, em um ponto perdido daquele paraíso gelado,ainda no condado de Alamosa, temos nossa primeira parada para abastecimento do veiculo e dos passageiros. Quando retorno para meu assento não acreditava no que via, cerca de 20 imigrantes mexicanos tomara todas as poltronas vagas, inclusive a minha que era ocupada por uma jovem senhora de no máximo 23 anos com seu bêbe no colo e o marido em pé ao lado! Fiquei sem entender nada, até que sobe um fiscal da empresa de ônibus com cara e atitudes de poucos amigos,toma o microfone e proclama em um espanhol rude e duro,que todos os coitados mexicanos deveriam descer imediatamente do coletivo sob pena de prisão e deportação! Foi triste ver aquela cena, senhoras idosas, jovens e homens de aspecto sofrido e maltrapilho ficarem literalmente perdidos naquele mundo gelado e perdido! Lá fora já fazia uns 22o C abaixo de zero e a noite estava apenas começando! Ás 20:52 hs chegamos em Pueblo, última parada antes de Denver. Já tinha vistos esta cadeia de montanhas alguns dias antes quando sobrevoei durante horas de Denver até Albuquerque, o que de cima é deslumbrante, aqui em baixo é algo indescritível, uma dádiva da natureza, um mundo inóspito e desafiador. Apesar do horário ainda era dia, um céu rosado e lilás, parecia uma aurora boreal hollywoodiana. Paramos novamente no meio do nada, a uns 3 mil metros de altura, em pleno inverno de dezembro! O clima era polar, blocos de gelo no chão fazia meu andar um circo ! Tinha fome e o local só tinha uma pequena cabana com um único banheiro e uma maquina de coca-cola. O motorista nos deu 30 minutos e nada mais, sob pena de perder o transporte. Na poltrona da minha frente viajava uma cantora country decadente e frustada(ela se lamentou de seu fracaço artistico,varias vezes), chamada Becca Martines, que iria até o estado de Wyoming, destino final da linha, para fazer um show! Becca parecia bastante com a falecida esposa de Paul McCartney, Linda McCartney, até a faixa etária acho que era a mesma! Até aquele momento da trip, já havíamos trocado umas idéias sobre musica e outros temas ! Alias, eu era uma atração naquele ônibus, pelo meu tipo e minha língua estranha, um verdadeiro estrangeiro que despertava a curiosidade de quase todos que ali viajavam! O estomago apertava e não tinha o que se comer ali naquele frízer natural, foi quando a maluca da minha “amiga” cantora teve a idéia de me chamar até um drive-in lanchonete que ficava ali mesmo naquela highway 25, uma milha mais a frente. Topei na hora ! Usando três calças ,duas camisas,dois casacos, luvas, botas e a boca lambusada de baton de cacau, me senti pronto para o desafio. Tinha-mos agora apenas 25 minutos para irmos, comprar-mos o lanche e voltar para o coletivo. No inicio da caminhada até que foi interessante, ela cantava algo de Dolly Parton enquanto caminhava e eu apreciava aquela paisagem fenomenal . Em 10 minutos estava-mos no drive-in, que era um pequeno kiosque com vários bancos coberto de gelo ao ar livre ! Becca me pediu para comprar seu lanche e me disse que ia em algun lugar ali perto, que não entendi ! Pedi dois hamburguers e dois copos gigantes de suco de laranja ! Sentei no banco gelado que queimava minha bunda enquanto espera com espectativa o desejado lanche! Em 5 minutos já tinha sido atendido, então a maluca não apareceu ! Olhava para o relógio a cada minuto que passava e nada de Becca chagar, já tinha se passado 20 minutos desde que sair-mos do ônibus, comecei a ficar desesperado ! Dolares, passaporte, bagagens, enfim tudo que tinha estava no ônibus .
Cansado de esperar, fui correndo pela aquela estrada gelada e deserta , pensando na possibilidade de perder o transporte e morrer congelado no acostamento ! Agora sim ! Já era escuridão, a noite caira repentinamente, e eu correndo exausto com todas aquelas roupas que me impediam maior mobilidade e carregando um saco de hamburguês e dois grandes copos de suco! Era um milha, já tinha feito uns 500 metros subindo uma estrada íngreme e escorregando no gelo, e o suco derramava em cima de mim me fazendo o corpo sentir mais frio ainda maior, então joguei fora aquele liquido do inferno e acelerei o passo ao limite, o coração batia a mil, sentia ele em minha boca, faltava ainda uns 300 metros quando olhei ao longe e avistei o transporte já partindo sem a minha presença ! Caramba !!! Chorei e gritei naquele momento, foi realmente um desespero total ! Como estava do outro lado da via, no sentido contrario do ônibus, atravessei as quatro faixas e pulei uma divisória de mais de um metro completamente coberta de gelo, cai no asfalto, me levantei e continuei correndo no meio da pista em direção a minha salvação ! De repente o ônibus freia bruscamente na minha frente, onde aceno feito um naufrago perdido, então o motorista abre a porta e me dar um esporro que não entendi bem o inglês, porem saquei totalmente o conteúdo! Todos me cumprimentavam preocupados comigo, e indagavam sobre o paradeiro de minha amiga, que não estava lá ! Quando passamos em frente ao drive-in a Becca estava lá nos esperando tranqüilamente! Subiu rindo e me perguntou pelo nosso lanche, onde lhe dei só o hamburgue , e ela irritada me indagava sobre o suco ! E dizia: PORQUÊ VOCÊ NÃO TROUXE TUDO !!!! É mole ????????